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Arquitetos: El Fil Verd, Estudi d'Arquitectura
- Área: 342 m²
- Ano: 2020
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Fotografias:Milena Villalba
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Fabricantes: Aistercel, Banacork, Bòbila Aguileras, Ecoclay, Fapylsa, Fusteria Guitart, KEIM, La barca Marbres i Granits, Madera Casas, Metal.listeria Mediterràneo, Naturclay
Introdução. O objeto desta reabilitação é uma habitação unifamiliar entre empenas construída em Barcelona em 1942. Na malha urbana do bairro coexistem tipologias do início de 1900 e edifícios novos. O terreno onde se insere o volume pertence a um quarteirão que preserva intacta a tipologia de casas unifamiliares entre empenas com jardim contíguo. Orientado ao longo do eixo nordeste-sudeste, ele inclui uma edificação de dois pavimentos com terraço na cobertura, um jardim e, no final do mesmo, uma edícula de um nível.
Os clientes pretendiam concretizar mudanças em relação à distribuição, conforto termoacústico e eficiência energética mantendo elevados padrões de qualidade. Desde o início entendemos que um projeto integrador e bioclimático, com o uso de materiais naturais de alta qualidade e a adoção de estratégias de eficiência energética nos levariam aos resultados esperados.
Detalhes do projeto. O volume principal é constituído por paredes autoportantes de alvenaria com abóbadas cerâmicas. Antes de prosseguir com a nova distribuição, os pisos e parte da fundação foram reforçados. Na edícula, as vigas de madeira, infestadas por xilófagos, foram substituídas. Outro ponto crítico a ser resolvido foi a umidade ascendente que afetou todas as paredes e a fundação. A solução adotada tem sido múltipla: corte físico na base das paredes, impermeabilização e drenagem da fundação e câmara ventilada nas paredes divisórias. Também foi construída uma laje ventilada para permitir um bom isolamento e ventilação em relação ao solo.
A nova distribuição nasce das exigências dos clientes aliadas a uma adaptação bioclimática do pré-existente. Na casa, os cômodos principais estão dispostos na face sul para manter uma conexão visual com o jardim e com a fonte de água. O terraço é ajardinado e transformado em solário. A edícula torna-se biblioteca e sala de estudos graças à sua orientação norte e à uma claraboia pré-existente. O pátio existente é transformado em uma “floresta urbana” que trabalha bioclimaticamente com os edifícios.
Os volumes são adaptados construtivamente para alcançar a máxima eficiência energética. O envoltório está completamente isolado para manter uma temperatura constante durante todo o ano.
Os materiais utilizados no projeto são naturais, de alta qualidade, respiráveis e sem adição de substâncias tóxicas. A sua escolha responde a critérios estéticos e de saúde. Do ponto de vista estético, são preferidos os tons quentes, que lembram a natureza de uma floresta: cortiça exposta, terracota, madeira natural, aço corten. A casa e o jardim funcionam como uma unidade simbiótica. Quando chove a "pele" da casa fica molhada e escurece exatamente como o tronco das árvores do jardim. As árvores de folha caduca são plantadas para manter a conexão viva com o passar das estações. O terreno é modulado em dunas e passeios que permitem caminhar descalço por uma pequena porção da mata.
Além de utilizar materiais biocompatíveis com baixo impacto ambiental, as instalações elétricas e de telecomunicações são projetadas e monitoradas para não causar interferência na biologia humana. Com este objetivo, é realizado um estudo geobiológico dos terrenos e edificações e são adotadas medidas como a blindagem das áreas afetadas ou a ligação de todos os elementos estruturais metálicos a um aterramento.
Os móveis, feitos sob medida com madeiras como carvalho, tília e nogueira, são tratados superficialmente com óleos e ceras naturais. Os módulos internos dos armários são feitos de compensado de pinus para evitar o uso de melamina. A escadaria principal da casa encontra-se parcialmente recuperada e reconstruída, readaptando o guarda-corpo original.
Durante a obra, o impacto no ambiente é minimizado ao nível dos resíduos, separando-os por material e reciclando-os sempre que possível. Os restos de cortiça, grande protagonista deste projeto, foram picados e reduzidos a grânulos para serem reutilizados novamente como carga isolante.
Explicações técnicas (arquitetura bioclimática e vegetal). O objetivo deste projeto foi criar edificações altamente eficientes com controle milimétrico das condições de conforto interno. Para chegar a esse resultado, estratégias passivas e ativas foram aplicadas em igual medida, até chegar ao resultado final, um consumo de 12,00 KWh/m2 ano.
Estratégias passivas. Todo o envoltório é isolado com painéis de cortiça termo-tratada. Nas paredes divisórias e na fachada, o isolamento é colocado como revestimento interior, posteriormente rebocado com tintas de silicato para preservar a respirabilidade. Na fachada interna voltada para o jardim, a cortiça é aplicada do lado de fora, aparente.
No térreo, abaixo do piso, uma câmara ventila graças à diferença de temperatura entre as fachadas e evita possíveis problemas de umidade. Acima dela, uma barreira de vapor e 20cm de isolamento térmico cortam qualquer possível transmissão de fluxo de calor entre a casa e o solo. Na cobertura plana do primeiro andar, 18cm de painéis de cortiça termotratada isolam do exterior. Todas esquadrias são renovadas com a instalação de janelas em madeira de castanheiro com acabamento em verniz ecológico. Para aproveitar ao máximo a radiação solar, os vidros são modulados com uma película de baixa emissão de acordo com a orientação de cada fachada. Na execução de todos os detalhes construtivos tem-se o cuidado de evitar infiltrações conforme a medição dos fluxos de ar, planejados desde o início da obra.
A "floresta urbana" é concebida como parte integrante do projeto. As árvores de folha caduca permitem a passagem da radiação solar no inverno, e no verão funcionam como filtro solar, protegendo a fachada e as aberturas. A fonte localizada em frente ao anexo funciona em conjunto com o jardim: aqui a água da chuva é coletada e oxigenada em um grande tanque subterrâneo para depois ser reutilizada para irrigação. No verão, a presença de água reduz a temperatura e favorece a ventilação natural em todo o térreo.
Estratégias ativas. Todos níveis estão equipados com piso radiante e refrigeração, alimentados por uma bomba de calor de alta eficiência. Ambos os volumes estão equipados com desumidificadores para tratamento do ar e recuperação de calor, monitorados e regulados por um sistema eletrônico de automação. A iluminação utiliza tecnologia LED.
O resultado final destas intervenções é uma casa contemporânea que honra as suas origens e se mantém ligada a elas, oferecendo aos seus ocupantes elevados níveis de conforto e constante integração com os elementos naturais. A quase ausência total de compostos orgânicos voláteis, o controle da qualidade do ar e da umidade interna, o controle dos campos elétricos e eletromagnéticos garantem ótimas condições de saúde. Do ponto de vista da eficiência energética, a classe energética inicial G foi transformada em uma classe A que reduz ao mínimo os custos de energia e o impacto no meio ambiente. Por fim, a visão cotidiana da pequena floresta urbana decídua mantém viva a conexão dos sentidos com os ritmos imutáveis da natureza. Uma tentativa de curar a alma das alterações causadas pelo frenético cotidiano urbano.